sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mudanças…

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades… Podia começar assim, ainda que a frase pareça um pouco batida.

Mudam-se as vontades, a vida, muda-se de casa e, por vezes de amigos. Não é que os amigos se troquem uns pelos outros mas as mudanças fazem, por vezes, com que nos aproximemos de uns e nos afastemos de outros. Os amigos verdadeiros permanecem, mesmo que longe da vista.

Há pessoas que não encaram bem a mudança, custa-lhes perceber que a vida é, de facto, um organismo vivo. Parece que me estou a repetir mas não há outro modo de o dizer. Como organismo vivo que é, não pode ser estática, não pode parar no tempo. Isso apenas significaria que não estavamos a evoluir, que tinhamos estagnado e talvez estivessemos a deixar que os nossos sonhos e objectivos morressem.

Aos pais custa que os filhos saiam de casa, seja com que idade for e qualquer que seja a razão. Porque os filhos são sempre “pequeninos” mesmo que tenham 40 anos e é sempre dificíl cortar o cordão umbilical. Para os pais é muito mais dificíl porque o sentem como uma perda, enquanto o jovem que parte à descoberta o sente como uma conquista.

Ás pessoas, de um modo geral, a umas mais do que a outras, também custa enfrentar a mudança e encara-la como algo positivo. Aos solteiros custa que os amigos se casem, sentem-no como uma perda, como um corte, por vezes como uma derrota. Aos casados custa que os amigos se divorciem, porque sentem a nuvem da possibilidade a pairar sobre as suas cabeças, porque as coisas só nos parecem reais quando acontecem de perto, porque novamente haverá (no seu entender) um corte. Aos divorciados incomoda, por vezes, a felicidade de outros relacionamentos que se mostram “de pedra e cal”.

Aos patrões custa ver sair um bom colaborador, como aos colegas custa que este mude para melhor, enquanto estes permanecem no mesmo sitio. Ainda que nada tenham feito para, eles próprios, mudarem. A quem sai, custa fazê-lo com receio de fazer a escolha errada e ser criticado pelos que ficam e se indignam.

Mas afinal a mudança é boa ou má? Devemos enfrentá-la sem medos ou fugir dela como o diabo da cruz?

Afinal somos capazes de sentir uma inveja positiva ou apenas um sentimento de inveja mesquinho e pequenino que nos impede de crescer? E será que ao menos temos consciência dessa inveja que cresce dentro de nós, como uma erva daninha num jardim em flor? Normalmente não. E como o pior cego é aquele que não quer ver, continuamos assim, pela vida fora a almejar o que não é nosso mas sem nunca dar o primeiro passo para ser melhor.

A mudança, mais que boa, é necessária. É com ela que aprendemos a andar, a falar, a escrever, a ler, que crescemos e fazemos escolhas. E cada escolha é, necessariamente, uma mudança, embora nem sempre tenhamos consciência disso. É pelo sentido de mudança que está em nós enraizado, que estudamos e tiramos cursos, que nos relacionamos com os outros, que namoramos e casamos. São as mudanças, programadas ou simples rasteiras da vida, que nos ensinam e nos fazem crescer, que nos tornam melhores pessoas (ou deveriam). E as mudanças não devem ser encaradas como cortes com o passado recente, que o não são. É esse passado, mais ou menos recente que fez de nós as pessoas que hoje somos e por isso, ainda que quisessemos, não poderiamos cortar com ele. Então a mudança não passa disso mesmo… mudança. E não são as pessoas que mudam, não se esquecem nem se dividem, nem se afastam… Apenas as variáveis se alteram para que a equação se torne mais rica. Não se trocam amigos por amigos, nem amigos por namorados, nem familias por maridos, nem maridos por amigos… Nada se troca porque as pessoas não são objectos inanimados. Tudo se conjuga à medida que as mudanças ocorrem. E muitas vezes não são as pessoas alvo de mudança que se afastam do seu passado recente, é esse passado, o meio onde se inseriam, que a rejeitam a pouco e pouco, que a substituem pelo imediato, pelo tangivel, pelo quotidiano. É o meio que a faz sentir-se diferente, embora a pessoa se possa sentir igual, que a confunde e impele para outro qualquer meio.

A mudança é boa e temos apenas que aprender a ser flexiveis, tolerantes e humildes para que ela aconteça connosco e não apenas aos outros. Não temos que nos lamentar, temos que andar sempre de cabeça erguida e perceber que nem sempre o mundo está contra nós, às vezes somos nós que viramos as costas ao mundo. Que a nossa vida não é melhor nem pior, mais ou menos dificil que a de ninguém. Apenas vivemos vivemos todos em realidades diferentes e cada um vive os seus problemas na medida do sofrimento que conhece. Não existem mártires nem heróis, nem maus da fita. Temos apenas que nos adaptar ao que o presente nos vai revelando, respeitar o espaço de cada um sem os repelir, sem que esse espaço se transforme numa cratera que já não podemos transpor.

Não é fácil assistir à mudança mas também não é fácil mudar. No fundo não há realidades perfeitas mas tudo seria mais simples e risonho se todos pudessemos compreender que a vida passa depressa demais para nos darmos ao luxo de estagnar, de cobiçar, de não aproveitar os dias sem ver sempre e só, ciscos nos olhos dos outros.
A vida não é fácil mas pode ser bonita. Basta vermos o lado bom das coisas… Às vezes não parece mas ele existe em todas as situações, por piores que nos pareçam.