"Os casais felizes que conheço têm por hábito celebrar a sua felicidade conjugal com frequência e muitas vezes sem pudor. É um despudor bom e saudável, como quem partilha um bolo de chocolate ou uma casa de férias. Afinal, se a tristeza é contagiosa, porque não há-de ser também a felicidade? Se nos emocionamos com imagens de destruição de guerra e vibramos com as vitórias do Benfica, também nos podemos regozijar com a alegria dos casais felizes que nos rodeiam, mesmo se estamos a atravessar um momento de solidão amorosa, daqueles que nos servem para parar, reflectir e para nos preparar para uma grande história de amor.
A celebração de um amor feliz pode ser repetida sem nunca chegar à exaustão. Conheço casais que o fazem há trinta anos. O ritual da celebração é libertador, inspirador e fortalece os laços entre eles. Por isso se celebram aniversários de namoro e de casamento, às vezes a dois, outras, com amigos e família. Celebrar faz parte da vida e quem não celebra as coisas boas é porque não lhes atribui valor suficiente.
Eu gosto de casais que apregoam a sua felicidade ao mundo porque eles são a prova viva que o amor pode ser vivido no dia-a-dia sem que a rotina o desgaste. É claro que estes casais não escapam a crises nem a momentos mais difíceis, porque somos todos iguais, todos humanos, todos imperfeitos, todos ambivalentes e todos temos um lado escondido, torcido ou destrutivo, mas não é isso que os impede de conseguirem manter aquilo que mais valorizam: a felicidade a dois, construída e mantida pelos dois, em nome do bem comum no qual o todo é maior do que a soma das partes. Como canta o João Gilberto, eu sou mais você e eu.
O amor não começa quando nos apaixonamos e olhamos para o outro como se fosse a nossa metade da laranja. O amor começa quando olhamos os dois para o presente da mesma maneira e desenhamos o futuro a quatro mãos em sintonia, quer seja um futuro que se projecta longínquo e vinculado com alianças de ouro e missa de matrimónio, ou próximo e leve como decidir onde vamos passar o próximo fim-de-semana. Aliás, o tempo amoroso é um tempo fora de todos os tempos, por isso não interessa quanto tempo dura uma história de amor desde que o amor esteja lá todo, sem pudores nem reservas. O amor, vivido e partilhado a dois, lança sementes das quais mais tarde podem ou não nascer reflexos desse amor. Podem ser filhos ou apenas sonhos, o que importa é crer, querer e fazer o que estiver ao nosso alcance para construir todos os dias um bocadinho mais, tijolinho a tijolinho, sem pressa nem medo, aquilo que queremos que seja o Nosso Amor."
Margarida rebelo Pinto in Crónica da Flash
Esbarrei com este texto da MRP e revi-me, revi-nos em muitas das palavras. Lembrei-me de alguns cépticos que conheci ao longo dos anos, daqueles que não conseguem partilhar da nossa felicidade e que julgam que a tornamos publica como afronta aos que ainda não encontraram a sua melhor metade. Somos felizes porque sim, porque nos compreendemos, porque falamos de coisas importantes e de coisas parvas, porque temos responsabilidades mas não deixamos de ser crianças e brincamos muito, com as coisas banais e com as mais sérias... Porque enfrentar as situações mais difíceis de cara séria não resolve nada, só complica. Gostamos muito de rir e gostamos de fazer rir um ao outro e posso dizer que nestes cinco anos não me lembro de um dia em que não me tenhas feito sorrir, mesmo nos momentos em que fomos forçados a estar longe um do outro. És a melhor pessoa que conheço, o coração mais puro e contigo sou, também eu, uma melhor pessoa. Quando partilhamos a nossa felicidade com o mundo não é para afrontar quem ainda não teve a nossa sorte mas antes porque é assim que nos sentimos - cúmplices e sorridentes. Não somos perfeitos, a vida não é perfeita, só nós sabemos os sobressaltos que já tivemos que enfrentar mas em todos eles tive sempre a certeza de que, de um modo ou de outro, tudo ia ficar bem, porque não estava sozinha, porque o meu melhor amigo esteve lá a cada passo do caminho. Somos felizes mesmo nesses momentos porque sabemos que a vida não é para ser dramatizada mas antes para ser aproveitada. Somos felizes porque sim e porque tenho a grande sorte de estar casada com aquele que é o meu melhor amigo, confidente, "compincha", amante, namorado, companheiro... Cinco anos felizes... "keep them coming"! ADM-TE RM.