terça-feira, 8 de abril de 2008

Baby steps…

Não existe tal coisa como “a pessoa certa” nem fórmulas secretas para a felicidade. Não existe o momento ideal ou o local perfeito. Não existem príncipes encantados nem princesas adormecidas. Existe o hoje, o momento presente, o agora... e embora as nossas escolhas se fundamentem, frequentemente, em experiências passadas, não podemos viver do passado nem prever o futuro. Tudo o que podemos fazer é viver cada dia o melhor que conseguimos e sabemos. Não é possível saber se todas as nossas escolhas são as correctas, nem se todas elas vão ter as consequências (ou a ausência destas) esperadas mas também não podemos deixar de arriscar viver. Cada mágoa do passado é um tijolo a mais num muro imenso que, ao longo dos anos, vamos construindo à nossa volta. Um muro que pode ficar de tal forma elevado que um dia acordamos e já não vemos nada além dele. Nada além de cada um dos tijolos, de cada uma das mágoas que fazem parte do nosso passado. Os muros construídos pela nossa imaginação e pelos nossos medos são construções sólidas, que não se abalam com qualquer sismo, com qualquer sorriso, com qualquer olhar. E à medida que estes muros vão tomando forma, nós vamos tendo cada vez mais dificuldade em nos relacionar com os outros, em ouvi-los sem duvidar, dar sem nada esperar, vamos tendo maior dificuldade em confiar, em nos entregarmos sem receios nem culpas, vamos tendo cada vez mais dificuldade em não ter medo. Porquê que se aprende mais facilmente em criança do que em adulto? A andar de bicicleta, por exemplo? Porque as crianças não têm medo. Porque não têm as experiências passadas, porque ainda não caíram vezes suficientes para saber que se podem magoar.

Eu já tive medo de cair e mais ainda de fazer cair. A partir de certa altura na vida percebi que cada queda doía mais que a anterior e comecei a não tentar fazer equilibrismo, a não andar por caminhos demasiado acidentados, por locais escuros. A certa altura percebi que por vezes também eu, sem querer, fazia cair outras pessoas e percebi que também elas – como eu – se magoavam... e, entre o medo de escorregar e o receio de passar rasteiras – ainda que involuntariamente – deixei de andar. Fiquei quieta, à espera que a vida passasse por mim sem que nenhum acidente se pudesse dar.

Era assim que estava quando alguém me fez ver que eu não podia simplesmente ficar à espera que os dias passassem em branco e me mostrou que existem pessoas que não tentar empurrar-nos, apenas querem ficar por perto para evitar as nossas quedas. E que, algumas vezes, eu poderia faze-lo cair mas ele saberia que não teria sido propositado e estava disposto a correr esse risco porque, também ele, queria viver sem medo.

Não sei se esta é a estrada que deveria ter seguido mas sei que neste percurso estou segura. Sei que se cair vou ter alguém que me ampara a queda e que se esticar o pé e tropeçarem nele, vão saber que apenas o fiz no momento errado e com o intuito de fazer mal. Sei que já não estou sozinha, que me conhecem como sou e embora valorizem mais as minhas qualidades, reconhecem alguns defeitos e sinto-me segura. Não sei se existiriam outros atalhos, se poderia ter experimentado outras sensações mas chega um momento em que temos que escolher entre a permanente incerteza e a paz de espírito... Eu escolhi viver sem pensar demasiado no futuro e aproveitar aquilo que posso ter em cada momento, porque nunca se sabe se vivemos mais um dia, uma semana, um ano ou muitas décadas... Se morrermos de velhice teremos todo o tempo para repensar todas as escolhas mas se um dia, sem aviso prévio, desaparecermos, iremos com a certeza de que fizemos o melhor que sabíamos e conseguimos.

A vida é mesmo assim, um livro aberto sem final escrito e que a cada página nos pode surpreender com novos desenvolvimentos e em que qualquer capítulo pode ser o último.