sexta-feira, 8 de junho de 2007

Reencontros

Ao fundo uma bola de fogo emana luz de um vermelho alaranjado que ilumina a praia. O mar é um manto sem cor, de todas as cores e o ondular sereno das águas assemelha-se a uma melodia frágil e tranquilizante. É neste cenário que procura encontrar-se consigo próprio. No seu rosto de porcelana duas janelas de alma cor de avelã, conduzem-no pela areia macia e, talvez cansado – do corpo ou do espírito – deixa-se cair à beira mar. Inspira profundamente como se tentasse conter nos pulmões todo o aroma a maresia, toda a imagem que o cerca e onde permanece, acariciando o cabelo de oiro, num gesto de quem procura encontrar-se. É ali que se senta sempre que precisa de se sentir vivo!
De repente, uma silhueta ao longe fá-lo regressar ao passado… As curvas confundem-se com as ondas do mar, uma longa mancha negra desce sobre os seus ombros, fazendo sobressair o mar no olhar. Fecha os olhos fortemente e volta a abri-los, como que para acordar de um sonho mas a figura continua a avançar pela praia, alheia a tudo. Não era um sonho, tão pouco uma mera semelhança… O coração bate descompassado… Tantos anos depois, o que lhe diria? Teria casado? Lembrar-se-ia dele? Não sabia o que fazer! Se a deixava passar sem uma palavra ou se aproveitava aquele momento para ter outra vez vinte e dois anos! Sentia-se um garoto apaixonado, de pernas a tremer e mãos suadas e frias. Aquela podia ser a última oportunidade que teria de ver nos oceanos contidos em seu olhar, de sentir a pele que lembrava como seda… Não podia ficar ali, paralisado… Sempre de olhos postos na sua antiga paixão, avançou pela areia até que esta pousasse os olhos nele… Num momento sem tempo e sem sons, num segundo que pareceu uma vida, todo o passado voltava e o presente deixara de existir… Como se não tivesse passado um dia – quanto mais vinte anos – entregaram-se num longo e profundo abraço, deixando o mundo lá fora.